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Revista de Libros
 
No. 12  l  Agosto 2007


Foto: Eduardo Sterzi

Verónica Stigger

Libros:
Gran Cabaret Demencial
Reseñas: Por Joca Reiner Terron
O tragico e outras comédias (2003)

Textos:
Janice e o umbligo

Tres cuentos

Entrevistas:
Por Bruno Dorigatti
Por Weblibros

A propósito de O trágico e outras comédias y Gran Cabaret Demenzial

Por Veronica Stigger

Meus dois livros foram escritos simultaneamente às pesquisas para a minha tese de doutorado (defendida em 2005), na qual estudei a relação entre arte, mito e rito na modernidade, a partir do exame de obras de Piet Mondrian, Kasimir Malevitch, Kurt Schwitters e Marcel Duchamp. O primeiro deles, O trágico e outras comédias (Coimbra: Angelus Novus, 2003; Rio de Janeiro: 7Letras, 2004), foi escrito concomitantemente à primeira fase da pesquisa, à fase em que me dediquei a estudar os mitos e os ritos. Talvez por isso eu veja nele ecos das leituras daquele período, mais especificamente, das transcrições e análises de mitos sul e norte-americanos feitos por Lévi-Strauss na sua tetralogia, as Mitológicas (sou fã dos Bororo). A estrutura das narrativas assume freqüentemente uma certa feição mítica. Nos contos d’O trágico, a história costuma estar centrada num personagem, que é apresentado deliberadamente sem qualquer profundidade psicológica. Este personagem realiza uma ação ou uma série de ações que só adquirem sentido dentro de uma dada realidade –a realidade intrínseca ao próprio personagem–, que se constitui como uma realidade paralela à nossa realidade. Esta realidade paralela, como a realidade dos mitos, apenas tangencia a nossa realidade: uma nunca coincide integralmente com a outra. As atitudes dos personagens correspondem muitas vezes às lógicas imprevisíveis dos mitos ou parecem seguir as regras de um ritual que, no entanto, permanece desconhecido para os leitores –e mesmo para mim.

No meu segundo livro Gran Cabaret Demenzial (São Paulo: Cosac Naify, 2007), percebo ecos das pesquisas para o doutorado que desenvolvi em Roma. Neste período, passava os dias nas bibliotecas romanas lendo sobre as vanguardas históricas européias e sobre os quatro artistas que resolvi estudar. Li muitas revistas de vanguarda, em que eram publicados os manifestos futuristas, dadaístas, surrealistas. E li também muitas descrições das agressivas, rebeldes e engraçadíssimas noitadas desses movimentos de vanguarda, principalmente das soirées dadaístas. Acho que o Gran Cabaret tem um pouco deste universo. A própria organização do livro na forma de um “cabaret” já deixa ver que ele tem um quê desses espetáculos: numa mesma soirée, um número de dança era seguido da recitação de um poema sonoro, que era sucedida por uma performance musical, que era substituída pela leitura de manifestos e de outros pequenos textos, e assim por diante. O Gran Cabaret alterna textos mais longos com textos curtíssimos, como se estes fossem vinhetas ou esquetes entre os números. Nele, há textos de diferentes formatos: contos, poemas, uma peça de teatro. Embora –é bom dizer– eu os veja todos como respondendo a um mesmo princípio narrativo, que é o do conto. Em síntese, eu diria que o Gran Cabaret Demenzial é, antes de tudo, um livro de contos, mesmo que estes contos adquiram, por vezes, a forma de poemas ou de uma peça, de uma notícia ou de uma palestra, de anúncios “publicitários”...

(O trágico e outras comédias, Angelus Novus, 2003)
(Gran Cabaret Demenzial, Cosac Naify, 2007)

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