Revista de Libros |
No. 12 l Agosto 2007 |
Santiago Nazarián Libros: |
Literatura para despertar zumbis Por Santiago NazarianChego aos trinta anos em 2007 com quatro romances publicados. Posso considerar isso como uma conquista, mas na verdade eu preferia não ter chegado aos trinta anos. Preferia continuar carregando a bandeira de “jovem autor” e esfolando joelhos e quebrando vidraças, porque isso faz mais pela literatura do que qualquer “senhor de respeito poderia”. Hum, ok, meio tola essa filosofia de estilingue, mas é sincera. Quando se é um “jovem autor” referem-se tanto a você como “promessa”, como se você ainda não tivesse entrado no jogo, como se ainda não estivesse no páreo oficial. E, de fato, na literatura, muito pode se ganhar com a maturidade. A ansiedade domada, a estrutura conquistada, pode dar um fundamento ao texto, coisa difícil de ser encontrada por quem tem pouca idade. Mas ao mesmo tempo, algo vai se perdendo, algo vai se degradando; a espontaneidade, talvez, o ímpeto e a coragem. Tantos grandes autores cresceram para se tornarem iguais, repetirem-se, escreverem sempre o mesmo livro. E acho que é obrigação dos novos desafiar paradigmas, romper com o bom-senso, com o bom-gosto. Talvez, a cada romance que eu escreva, bata um sino no meu inconsciente: “como posso fazer para ofender acadêmicos e perder prêmios?” Não sei desde quando –ao menos no Brasil– escritores se aproximaram mais de professores do que de artistas. Escritores se tornaram aliados das instituições. Quero ser aliado dos transgressores, dos agressores, ou ao menos dos estudantes, que vivem esse papel apenas por não ter escolha. Talvez, por essa postura, eu tenha conquistado um público bem jovem: jovens adultos e adolescentes tardios. Ou talvez por eu escrever sobre jacarés assassinos e sapos fumantes. Me interessa a fusão dos gêneros, colocar zumbis num drama afetivo. Colocar pitadas de algo que não seria recomendado num texto verdadeiramente literário. Não por acaso, no final de meu romance mais recente, Godzila destrói a cidade. Chego aos trinta anos em 2007 com quatro romances publicados. E confesso que nos três primeiros ainda me preocupava em ser tomado como um escritor sério. Abominava a literatura pop. Queria construir algo denso e pesado. Talvez com a maturidade literária, eu tenha apenas me tornado realmente jovem, tenha aceitado minhas referências, meu universo, sem medo ou barreiras para expressar minha arte. Minhas influências literárias vêm muito desse ímpeto jovem de outras épocas, principalmente do romantismo. Da literatura “mal-de-século”. E dos marginais contemporâneos. Não sou um intelectual, não sou um acadêmico (Deus me livre!). Apenas gosto de ler, me interesso por música, cinema e teatro. Estudei piano, mas queria ser como Liszt. Como seria impossível, reservei meus dedos para outras teclas. Minha escolha pela literatura veio principalmente pela independência, a capacidade de trabalhar sozinho, seguindo apenas minhas convicções. Bem, bem, melhor do que continuar lendo sobre mim ou sobre meu “manifesto da imaturidade” seria ler meus livros. Então os apresento brevemente. Olívio (2003): Romance linear sobre um jovem que a partir de uma briga com a namorada vai perdendo tudo o que estrutura seu cotidiano. Acaba conhecendo um misterioso escritor que lhe apresenta um novo mundo, mais denso e mais perverso. A Morte Sem Nome (2004): Romance narrado em primeira-pessoa por uma suicida serial, uma mulher que se mata a cada capítulo, e que no capítulo seguinte está viva para se matar novamente. Feriado de Mim Mesmo (2005): Thriller minimalista com um único personagem. Um homem que vive sozinho e trabalha em seu apartamento, mas começa a achar que há alguém mais morando com ele, alguém com quem ele nunca se cruza... Mastigando Humanos (2006): Um romance psicodélico narrado por um jacaré de esgoto, amigo de um sapo fumante e apaixonado por uma vendedora ambulante. Na verdade, uma alegoria sobre os ritos de passagem da adolescência, sobre o adolescente que quer transgredir e conhecer o “underground”. E é isso. Se você for bonzinho, te deixo também ler as tatuagens e cicatrizes sobre minha pele. |